A arte sempre andou junta a todas as inovações tecnológicas. E os artistas são os primeiros a explorar as novas tecnologias. Um exemplo disso é a invenção da tinta a óleo, vendida em tubos na época do impressionismo. Eles se valeram da invenção para, in loco, observar a mudança da luz que transmitiam aos seus quadros. A arte é sempre uma reflexão da inovação da época corrente.
Se hoje a questão da conectividade e acesso à informação é uma das mais importantes da história contemporânea, é natural que a arte encontre um espaço ali. O computador veio adicionar muita coisa a arte. O interesse está no sistema de captura e disseminação da informação, de como as imagens vão para um site, o que acontecem com elas e como saem de lá.
Se antes a tecnologia ajudaria o homem a atingir seus objetivos, agora ela faz parte do homem, não só como extensões do corpo, mas como partes intrínsecas. Não dá mais para entender a humanidade sem automóveis, celular Internet, etc.
A Internet alterou o modo como nos comunicamos e como decodificamos a informação e como vemos o mundo. Através do hipertexto as pessoas puderam experimentar uma outra forma de se informar e se comunicar. Em um instante podemos ir de Platão a Walt Disney com apenas um “click”. A forma como o designer projeta a informação em um site será decodificada de uma forma diferente por qualquer pessoa que o acessá-lo.
A Internet, aliás, é uma enxurrada de informações, temos imagens, sons, vídeos, movimentos. Tudo isso dificulta a conexão entre os signos que juntos formam a informação. Quando clicamos e vemos uma pagina, quando entramos em uma sala, essa página ou sala não existe de verdade. Precisamos fazer projeções para compreender o mundo esquisito que é o digital.
Um produto digital é adimensional, ou seja, não tem dimensão física, estimulando a investigação. É alinear, o usuário fica livre pra decidir como quer explorar a informação. É disponível a qualquer hora e pessoa. É infinita, através do hipertexto. É manipulável, participativa e personificável. A Internet veio para democratizar a informação, qualquer pessoa, em qualquer lugar do mundo, pode acessar a informação de seu interesse sempre que quiser.
A hipermídia é uma tecnologia que permite escrita e leitura não lineares, o que favorece o desenvolvimento de um pensamento complexo. O pensamento não linear caracteriza o conceito de sistemas, relação de troca e mutua determinação.
Para Leão (1999), nossa mente é governada por dinâmicas não lineares de um complexo sistema que forma a rede neural e que percorre o nosso cérebro e o corpo como um todo. No caso da hipermídia, o que define a trama do tecido complexo é que este se forma através de um jogo circular onde os binômios ordem / desordem, acaso / determinação, interação / retroação se conjugam de forma infinita e simultânea. Cada nó da rede, cada home page, cada página de um CD-ROM devem ser concebidos a partir dos princípios da clareza, coerência, rigor, ordem, precisão.
O hipertexto/hipermédia desenvolve a transferência de conhecimento em moldes semelhantes às redes semânticas da Inteligência Artificial usados para representar o conhecimento. Em termos de operacionalização, a proximidade do documento hipertexto/hipermédia com a maneira de atuar da mente humana, visa sobretudo, aumentar a compreensão do documento, na medida em que o nosso cérebro pensa e funciona mediante a associação de idéias. A natureza humana tem tendência à ordem a partir do caos. E só há ordem complexa nos sistemas hipermidiáticos se existir a conjunção entre ordem e desordem.
A tecnologia hipertexto/hipermédia determina que haja uma 'relação simbólica' entre o autor do documento e o utilizador, criando-se “novos métodos de interacção textual e a necessidade de desenvolver alternativas aos modelos tradicionais de acesso à informação”.
É certo que o computador vem desdobrar e agilizar as possibilidades de recombinação e de interatividade na arte, ampliando a relação de proximidade inevitável entre o homem e o computador, o que Abraham Moles chama de 'alienação cultural'; no caso particular do artista, segundo Moles, passa por uma subversão do desempenho do artista - "não vai ser substituído por máquinas (...), mas, desviado da sua função (...) ele irá transformar-se em programador" ( 1990, trad. de 1990, p.252), possibilitando, desta forma, a substituição da mão do homem por atividades programadas na construção da obra.
No caso particular da arte, a introdução de novas tecnologias representa profundas alterações, na medida em que as alterações suportam o peso de tradições milenares. As tecnologias hipertexto/hipermédia vêm desmistificar o elitismo dominante na arte, criando-se assim uma visão democratizante da arte associada a uma enorme acessibilidade por parte dos utilizadores.
A arte na realidade não está se desestabilizando como pensam os mais pessimistas, mas na realidade está se adaptando as novas tecnologias, como sempre fez. Todos somos influenciados por mudanças no decorrer da história, e a magia disso tudo está na forma de adaptação que temos. Não acredito na morte de moldes clássicos tanto da arte como do design, mas vejo uma grande oportunidade, através da Internet, de transformarmos nossos conceitos de mundo, de vermos as coisas, que convivermos entre si. Esse é o papel da arte e do design.
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